A Criança e o medo de aprender (2001) Serge Boimare. Lisboa: Climepsi Editores.
Serge Boimare, professor especializado e psicólogo clínico, põe em causa ao longo desta obra, todo o sistema e os métodos pedagógicos que desencadeiam o processo ensino/aprendizagem.
Interroga-se "como é possível que crianças inteligentes, que mostram noutros aspectos, evidentes qualidades de adaptação e de compreensão do mundo que as rodeia, não consigam transferir essas capacidades para o enquadramento da sala de aula?"(p.16). Pergunta ainda "que força misteriosa é que poderá levar crianças inteligentes, preocupadas com os seus interesses, a não utilizarem os meios intelectuais de que dispõem, num local onde tudo isso é particularmente valorizado?" (p.17).
Aborda o sentimento de sofrimento, de crianças e jovens que muitas vezes se traduz em problemas de comportamento que tornam a situação ainda mais pesada e foca a rigidez da relação professor/aluno, onde é frequente a preocupação em dar à turma da mesma idade, ao mesmo nível, no mesmo tempo, a matéria a abordar. Refere ainda o pouco espaço deixado à criatividade, ao desejo e à liberdade de expressão que, segundo ele, são responsáveis pelo malogro
da educação.
Aprender é encontrar limites e regras, é ser confrontado com as insuficiências, é aceitar desistir das certezas, integrar-se num grupo sem ser o seu líder, é permitir ser comparado, julgado, submeter-se. Dados difíceis de admitir, ainda mais para os que cresceram na recusa da frustração, na ausência de referências e/ou obrigações, na exclusividade da relação.
O autor apela assim para a importância da relação professor/aluno, afirmando que "uma boa progressão de uma aula de crianças com dificuldades de aprendizagem assenta, acima de tudo, nessa capacidade que o professor terá de desactivar, por vezes, até de desintoxicar, todos esses sentimentos parasitas que se ligam à situação de aprendizagem e a pervertem"(p.24).
Esta capacidade do professor não é inata, segundo o autor, ela pode ser trabalhada e melhorada, desenvolvendo uma reflexão sobre o tipo de resposta que se dá às crianças em função da sua personalidade, do seu passado educativo e dos seus projectos pedagógicos.
Este livro refere ainda as diferentes teorizações sobre o insucesso escolar. Uns defendem o aspecto reeducativo, reforçar e solidificar saberes, aprender a gerir estratégias cognitivas, tranquilizando a criança. Outros defendem o aspecto relacional. Ambos legítimos e com razão de existir.
Para este autor, o fracaso educativo precoce, representa um perfil determinante no futuro intelectual das crianças. Estas, para manter um equilíbrio de forma a protegerem-se do acto de pensar, não suportarão regras que lhes são necessárias e muito menos o confronto com o vazio e a solidão.
Para se defenderem, criarão uma carapaça protectora que se manifestará na recusa em questionar e duvidar, e a recusa do mundo interior. Por isso, perante a situação de aprendizagem, sentem-se mal e com medos que ocorrem no espaço para o funcionamento intelectual, reservado à dúvida e à pesquisa.
O autor apela ao restauro da relação pedagógica. Um fracasso educativo precoce tem muita influência no modo de aprender .
Crianças e adolescentes com um pesado passivo escolar, revelam medos que os inquietam e desorganizam. As recusas face ao saber num trabalho interior de assimilação, confrontam o suportar dos limites e a renúncia que acompanha o pensamento.
O autor, na sua prática pedagógica, apoia-se nas obras de Júlio Verne, nas suas situações de simplicidade dramática, onde são sempre as necessidades e as preocupações primárias que estão em causa, para abordar matemática ou gramática, para ensinar a ler e a escrever, tornando os alunos sensíveis às sugestões que lhes são feitas para abordarem a aprendizagem. Diminuir a violência e a impaciência e abordar a aprendizagem da leitura, provoca mudança na atitude das crianças, as histórias permitem o alargamento do imaginário das crianças.
O uso do conto para crianças e jovens com atraso no seu percurso escolar, permite um espaço onde a troca de palavras substitui o insulto e a provocação verbal, deste modo a partir de Júlio Verne, da Mitologia Grega e Romana, de passagens da Bíblia e de Poesias, o autor relata casos de alguns jovens, surpreendendo-nos com uma deliciosa narrativa, muito agradável de ler, através de exemplos minuciosos que permitem compreender melhor e ajudar crianças que sofrem de difuldades de aprendizagem.
Interroga-se "como é possível que crianças inteligentes, que mostram noutros aspectos, evidentes qualidades de adaptação e de compreensão do mundo que as rodeia, não consigam transferir essas capacidades para o enquadramento da sala de aula?"(p.16). Pergunta ainda "que força misteriosa é que poderá levar crianças inteligentes, preocupadas com os seus interesses, a não utilizarem os meios intelectuais de que dispõem, num local onde tudo isso é particularmente valorizado?" (p.17).
Aborda o sentimento de sofrimento, de crianças e jovens que muitas vezes se traduz em problemas de comportamento que tornam a situação ainda mais pesada e foca a rigidez da relação professor/aluno, onde é frequente a preocupação em dar à turma da mesma idade, ao mesmo nível, no mesmo tempo, a matéria a abordar. Refere ainda o pouco espaço deixado à criatividade, ao desejo e à liberdade de expressão que, segundo ele, são responsáveis pelo malogro
da educação.
Aprender é encontrar limites e regras, é ser confrontado com as insuficiências, é aceitar desistir das certezas, integrar-se num grupo sem ser o seu líder, é permitir ser comparado, julgado, submeter-se. Dados difíceis de admitir, ainda mais para os que cresceram na recusa da frustração, na ausência de referências e/ou obrigações, na exclusividade da relação.
O autor apela assim para a importância da relação professor/aluno, afirmando que "uma boa progressão de uma aula de crianças com dificuldades de aprendizagem assenta, acima de tudo, nessa capacidade que o professor terá de desactivar, por vezes, até de desintoxicar, todos esses sentimentos parasitas que se ligam à situação de aprendizagem e a pervertem"(p.24).
Esta capacidade do professor não é inata, segundo o autor, ela pode ser trabalhada e melhorada, desenvolvendo uma reflexão sobre o tipo de resposta que se dá às crianças em função da sua personalidade, do seu passado educativo e dos seus projectos pedagógicos.
Este livro refere ainda as diferentes teorizações sobre o insucesso escolar. Uns defendem o aspecto reeducativo, reforçar e solidificar saberes, aprender a gerir estratégias cognitivas, tranquilizando a criança. Outros defendem o aspecto relacional. Ambos legítimos e com razão de existir.
Para este autor, o fracaso educativo precoce, representa um perfil determinante no futuro intelectual das crianças. Estas, para manter um equilíbrio de forma a protegerem-se do acto de pensar, não suportarão regras que lhes são necessárias e muito menos o confronto com o vazio e a solidão.
Para se defenderem, criarão uma carapaça protectora que se manifestará na recusa em questionar e duvidar, e a recusa do mundo interior. Por isso, perante a situação de aprendizagem, sentem-se mal e com medos que ocorrem no espaço para o funcionamento intelectual, reservado à dúvida e à pesquisa.
O autor apela ao restauro da relação pedagógica. Um fracasso educativo precoce tem muita influência no modo de aprender .
Crianças e adolescentes com um pesado passivo escolar, revelam medos que os inquietam e desorganizam. As recusas face ao saber num trabalho interior de assimilação, confrontam o suportar dos limites e a renúncia que acompanha o pensamento.
O autor, na sua prática pedagógica, apoia-se nas obras de Júlio Verne, nas suas situações de simplicidade dramática, onde são sempre as necessidades e as preocupações primárias que estão em causa, para abordar matemática ou gramática, para ensinar a ler e a escrever, tornando os alunos sensíveis às sugestões que lhes são feitas para abordarem a aprendizagem. Diminuir a violência e a impaciência e abordar a aprendizagem da leitura, provoca mudança na atitude das crianças, as histórias permitem o alargamento do imaginário das crianças.
O uso do conto para crianças e jovens com atraso no seu percurso escolar, permite um espaço onde a troca de palavras substitui o insulto e a provocação verbal, deste modo a partir de Júlio Verne, da Mitologia Grega e Romana, de passagens da Bíblia e de Poesias, o autor relata casos de alguns jovens, surpreendendo-nos com uma deliciosa narrativa, muito agradável de ler, através de exemplos minuciosos que permitem compreender melhor e ajudar crianças que sofrem de difuldades de aprendizagem.
Elvira Cristina Silva
in rubrica Prelo CEI 59 (julho/set. 2001)
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