A arte de ensinar
grandes
ideias, regras simples
Alan Haigh
Academia
do Livro (2010)
Alan Haigh, professor
britânico, com mais de 30 anos de experiência, neste livro em modo ST
“simplifique tudo” (pág. 13) aborda a atitude do professor na relação com os
alunos através de uma reflexão pedagógica.
Despretensioso, sem
recurso a trabalho teórico e sem pragmatismo, embora crente do adágio “A
prática sem a teoria é estática; a teoria sem a prática é estéril"
(pág. 14).
Comenta o modo como
podemos transmitir, de forma mais clara e eficaz, os conhecimentos, centrando o alvo de concentração da aula (por parte do professor) no
foco do conhecimento, a compreensão, competência e atitude (percepção dos
alunos; avaliação critica e comportamento emocional). A necessidade de questionar
frequentemente: "Porque estão os
alunos a fazer isto? " (pág. 22 e 56); o que vão eles aprender? " (pág. 22). Sabendo a razão de se fazer uma determinada
coisa, não se evita que se torne menos maçadora, mas pode-se torná-la mais
aceitável (pág. 26).
Em
quatro partes (Planeamento; Comportamento e Gestão da sala de aula; Ensino e
aprendizagem; e Avaliação), num total de 19 capítulos, explana a aprendizagem num contexto com significado para os alunos, reforçando que deve ser clara, ter utilidade, ser
estruturada, com um foco e uma direção. Ser "claro" (com a linguagem
apropriada) e “não conduzir os alunos através de túneis escuros" (pág. 28).
Menciona a importância da estrutura
de aula com inicio, meio e fim, resumindo a referida estrutura de modo a
consolidar a aprendizagem, referida, por vezes, como plenário. Alude para o
facto de que o início de aula deve funcionar como introdução e contexto, sendo
a aula (o meio) "o objetivo de ensino", estabelecendo ligações que os
alunos possam captar de forma a ligarem ideias a aprendizagens anteriores (pág.
31).
Através das atividades, recursos e
organização de aula (pág. 46), destaca a
análise em conjunto com os alunos, para identificarem o que aprenderam na aula
que anteriormente não sabiam (pág. 47). Evidentemente aborda a necessidade de diferenciar
para ajustar (variando o grau de dificuldade de trabalho ajustando à diversidade
de capacidades e ritmos (pág. 50).
Refere a diferenciação, em função do
resultado ou da tarefa (os resultados finais podem ser diferentes, mesmo que a
tarefa seja a mesma e diferentes tarefas, podem ter ou não, pontos de partida
diferentes (pág. 51).
Ao nível do planeamento, refere ainda
a necessidade de serem planeadas outras atividades para os alunos que
rapidamente terminam as suas tarefas iniciais, devendo aquelas ser desafiadoras
(pág. 52).
Refletir com os alunos a razão de
cada atividade permite-lhes uma aprendizagem mais agradável, com maior
independência, incentiva as competências de pesquisa e estimula o pensamento e a
capacidade para tomar decisões (pág. 56).O autor, remete assim, para um
planeamento com criatividade, mencionando estratégias periféricas para aumentar
o interesse e agrado dos alunos, como o é caso das expressões(pág. 63).
Ao nível de gestão de sala de
aula salienta o primordial repertório de
vozes, pistas e sinais comportamentais que os alunos devem interpretar (pág.
71), estabelecendo posição de autoridade sem ser autoritário (pág. 72),
clarificando expectativas de trabalho e comportamento (pág. 74), aludindo para
o reforço de ações desejáveis como uma reação positiva, ou seja,
condicionamento operante (pág. 77), respeito mútuo (pág. 79), linguagem do
elogio e a sua sofisticação (pág. 81), que presume elogiar e explicar porquê.
Salienta a importância do currículo
oculto (expresso nos conteúdos programáticos de nenhuma disciplina, mas que é
igualmente importante para os alunos aprenderem de modo a atingirem os seus
objetivos de aprendizagem (pág. 85).
Lembra que para uma plena gestão de
sala de aula é importante valorizar os alunos nas suas competências, ter uma
percepção dinâmica do que se passa na sala de aula (pág. 92), posicionando-se
de forma a ver todos os alunos.
Deste modo, previne atuar antes de alguma irregularidade, especialmente com
observação de espírito leve em vez de ameaça (pág. 92).
O professor deve ser constante e
confiável, estabelecendo rotinas e responsabilidade dos atos. Ao nível do
ensino deve usar abordagens diferentes, aplicando estratégias diferenciadas em
momentos distintos. Professores que orientam, incentivam a descoberta (pág.
120), envolvem os alunos na aprendizagem, escutam as respostas e expandem-nas (pág. 130), porque
pensar e raciocinar é mais importante do que simplesmente evocar
corretamente (pág. 143). Proporcionar ambientes que conduzam à pesquisa (pág.
154), valoriza a cooperação e o incentivo mútuo na aprendizagem (pág. 162).
Ao nível da avaliação, sublinho uma
premissa inclusiva que ainda escasseia: todos os alunos contam, (pág. 174),
enfatizando que se deve direcionar o ensino para ajustar às necessidades da
turma e de cada um (pág. 176).
Considerando que ensinar é um
constante desafio, o seu fascínio nunca é maçador (pág. 179), o professor deve avaliar
o próprio trabalho e diagnosticar as realizações dos alunos, analisando e
identificando problemas individuais. Em suma, desenvolver aprendizes
independentes para a vida (pág. 194).
Trata-se de uma leitura motivadora,
para alguns um auxiliar de memória, pois não constituirão novidade as
estratégias aqui mencionadas, para outros, mais cépticos, será provavelmente uma utopia.
Saliente-se, que estas abordagens
pedagógicas, não são inovadoras, pelo contrário, há muito que anuímos (a
investigação e a prática assim o confirmam) de serem as adequadas, o mais
comum, lamentavelmente, é não serem executadas.
Questiono, por vezes, o feedback destas sugestões de leitura que
periodicamente partilho, e é com satisfação que vou sabendo que contribuíram,
em alguns casos, para reflexão. Se esse objetivo for cumprido com a leitura
deste livro, é com júbilo que aqui o partilho, pois o compromisso que em cada
dia assumimos para com os alunos deve conduzir à razão de escolha da profissão
(pág. 195), esperando evidentemente que essa escolha não tenha sido inadequada...
Elvira Cristina Silva
In: Sugestão de leitura na Newsletter Pró.Inclusão nº 82 pág. 12 (março 2015- 1ª quinzena)
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