Eu Quero Amar, Amar Perdidamente
de Isabel Abecassis Empis
Oficina do Livro (2008)
Neste livro reúne-se uma compilação de vinte e quatro crónicas
publicadas pela autora na revista "Pais & Filhos", Isabel
Empis. Com base na sua experiência profissional de psicóloga e psicoterapeuta, mas
também pessoal, aborda temas inerentes ao desenvolvimento humano com
particular relevo para o da criança. Para além da sua visão optimista na
abordagem que faz dos diferentes temas, conta ainda com
a colaboração de opinião de uma ou duas pessoas de várias áreas para
cada crónica, alargando assim o ponto de vista sobre cada um, o que demonstra
não só a despretensão na sua opinião exclusiva, como enfatiza a reflexão sobre
o mesmo. Uma viagem ao conhecimento de nós próprios e à criança que permanece
em cada um de nós, em actos de simplicidade, evidenciando como premissa o acto
de viver a vida com a máxima, tudo nasce, cresce e se desenvolve na e pela relação (...) (pág. 95). Amar, amar perdidamente,
um título que nos remete imediatamente para o poema de Florbela Espanca onde se
enaltece a importância de viver cada dia com afectos e bem querer. "Estar vivo não é um problema, é uma
circunstância que traz consigo um sem número de possibilidades interessantes"
(pág. 119).
Aborda a escola, o
diagnóstico de hiperatividade e a necessidade da escola ser um espaço prazeiroso.
Infelizmente um local que não contempla brincadeiras, ..."enaltecer as aprendizagens prazerosas,
alegres e criativas” (pág. 122; 205), as regras versus tolerância (pág. 207).
Destaco um item em
particular onde se aborda a escola, com o título "Estar preparado
para a vida: um conceito absurdo" não nos preparamos, vivemos
simplesmente!!!!
Enfatiza a necessidade de
respeitar o mundo das crianças e da sua criatividade, em detrimento da
constante reprovação do brincar, porque, todos deveríamos saber que brincar é
uma coisa séria, em vez da ideia errada de que brincar é inútil (pág. 120),
ideia partilhada por muitos adultos, professores inclusive. "É
fundamental termos presente este aspecto de que a educação, baseada
nesta atitude de partilha do adulto durante a infância, pode ir permitindo uma
atitude de construção de pontes, e não de muros, em relação às capacidades
criativas e de aprendizagem da própria criança, bem como à sua capacidade de
receber o que vem do adulto, do mundo, ou seja, do outro, em geral"(
pág. 121)
Um livro que reflete assuntos
como a maternidade, a importância do humor na vida, com a capacidade
que temos ou não de rir de nós próprios, reatando a criança que em nós
permanece. A importância da arte na formação das crianças, o riso e o choro no
desenvolvimento. Não procurar justificação externa aos nossos actos contemplando
a essência humana. Obviamente aborda o lado construtivo da frustração
aprendendo com a transformação das nossa experiências.
"(...) a
frustração não tem de sinónimo de sofrimento ou de dor, podendo antes
passar a ser sinónimo de oportunidade para crescer (...) (pág. 121
/122)
A vivência de vida (pág.
133) vivendo no momento pois tudo o resto não existe. A necessidade do humor e
do desaprisionar o "corpo". A importância do toque, dos abraços e
afectos, do brincar, e da valorização do tempo "não é preciso ter tempo
para ter tempo. Porque o tempo acontece no dia-a-dia, no aqui e no agora, e,
sobretudo, na atenção que permite que um encontro humano aconteça num só
minuto" (pág. 157)
Caso para lembrar o velho
adágio "a vida é bela, nós é que damos cabo dela". Este livro constata
a realidade de amarmos a vida, deslumbrando-nos permanentemente com o mundo.
Parece simples, no entanto essa ideia dogmática afasta-nos na correria dos dias.
Porque é que não permanecemos apaixonados pela vida?
Em 2002 escrevi um editorial de uma revista que à
data coordenava, dando título a esse editorial de “Apaixonem-se!...” De novo sinto vontade para citar as mesmas
palavras que escrevi no final desse editorial:
“É tempo de nos
apaixonarmos e agir. E você, o que é que já fez hoje para se apaixonar, quanto
mais não seja por cada dia de vida?” (1)
Elvira Cristina Silva
(1) (in:
Cadernos de educação de Infância nº 61 – abril/maio/junho)
in: Sugestão de leitura na Newsletter Pró-Inclusão nº 84 - pág. 9 (abril 2015 - 1ª quinzena)
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