O XII Encontro Nacional da APEI, realizou-se nos dias 8 e 9 de Julho de 2011, na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, em colaboração com a Escola Superior de Educação de Lisboa, com a temática Intencionalidade Educativa e Reflexividade.
Durante a sessão de abertura, na parte da manhã de dia 8 de Julho, Lúcia Santos, presidente da APEI, fez o enfoque no que já foi feito em educação de infância e todo um percurso que está para fazer.
Cristina Loureiro, da Escola Superior de Educação de Lisboa, abordou o estudo do PISA (Programme for International Student Assessment), na avaliação conjunta dos resultados apresentados por Portugal numa significativa evolução, factor consequente da importância do pré-escolar no seu alargamento e reforço, anos que se proclamam decisivos para o desenvolvimento da criança. Factores que constituem, sem dúvida, a repercussão nos resultados actuais. Como pontos de reflexão: continuidade do trabalho conjunto já realizado, melhor tempo de trabalho, conciliando este, com as orientações politicas.
Edmundo Martinho, do Instituto da Segurança Social, deixou um repto de que a resposta dada em creche não deve ser vista só no cariz assistencial defraudando a importância pedagógica. Este foco deve ir além da importância do carácter assistencial.
Ainda no final deste painel, Lúcia Santos, salientou a importância da recomendação n.º 3/2011, referente à Educação dos 0 aos 3 anos realizado por Teresa Vasconcelos conselheira do Conselho Nacional de Educação.
No painel seguinte, Maria João Cardona, enquanto moderadora, relembrou uma vez mais o papel interventivo de Teresa Vasconcelos em 1997, (relembre-se a realização das OCEPE), o seu contributo na APEI e os seus artigos publicados.
A ausência de Alexandra Marques, em representação da DGIDC, alterou este painel, tendo Teresa Vasconcelos, apresentado a referida recomendação do CNE. Esta felicitou a APEI pelos seus 30 anos em estado de maturidade. Homenageou também Maria José Nogueira Pinto a quem dedicou a sua apresentação pela dedicação dada no CNE.
Desejando que as crianças possam voar e ter futuro, a prelectora, referiu que só se pode conceber a educação dos 0 aos 3 anos como direito e não apenas como necessidade social. O valor intrínseco desta resposta enquanto estrutura educativa exige uma educação de qualidade como modo de colmatar desigualdades sociais. Enalteceu a importância da família na sua diversidade, como comunidade de afectos e como parceiros competentes e envolvidos nos projectos educativos dos estabelecimentos. Salientou que as crianças são um bem precioso mas que não devem ser tratadas como “pequenos lordes” numa alusão artística da obra de Ana Vidigal.
Referiu a configuração do papel do estado e a necessidade de trabalho de projecto em âmbito de creche, reforçando a importância do brincar que a intencionalidade educativa não pode esquecer, aludindo ao princípio da frugalidade numa sociedade cada vez mais consumista.
Foi também salientado a necessidade do reconhecimento do trabalho das educadoras em creche como docência, bem como a parceria entre profissionais e serviços no superior interesse da criança num investimento necessário para a qualidade da inclusão e a eficácia da intervenção em crianças de risco.
Lembrou o contributo da neurociência e da investigação que referem a importância do estímulo e das orientações pedagógicas e reforçou a importância do direito à palavra das crianças.
Terminou com uma referência a José Tolentino de Mendonça: “O mistério está todo na infância: é preciso que o homem siga o que há de mais luminoso à maneira da criança futura”.
Ana Bettencourt abordou o relatório e as referidas recomendações já apresentadas por Teresa Vasconcelos, salientando os princípios de uma escola inclusiva onde todos devem ter acesso, com recurso aos apoios necessários. Um ponto referido como crucial, foi o evitar de acumulação das dificuldades, desse modo, a escola deixa de se centrar no acto de ensinar para se centrar na organização e planeamento.
Mencionou a necessidade de pais qualificados numa necessidade generalizada da população portuguesa e a influência dos pais terem um projecto académico para perceberem melhor a actividade escolar dos filhos, bem como a um aumento significativo da literacia.
Na segunda parte deste dia, Júlia Formosinho, referiu a qualidade enquanto instância primeira para a equidade. Salientou que diferentes programas produzem efeitos positivos e o impacto destes variam em amplitude e persistência consoante a qualidade do programa. Currículos bem desenhados têm efeitos de longo prazo no sucesso escolar.
John Siraj-Blatchford, referiu a justiça social na oportunidade e equidade no trabalho, questionando, se existe realmente a igualdade de direitos.
As práticas educativas na Educação de Infância e o envolvimento familiar na aprendizagem das crianças têm efeito no desenvolvimento de crianças e famílias. O modo como os intervenientes no processo educativo, trabalham em conjunto de forma intelectual, de modo a resolverem problemas, planificando, e dialogando contribuem para o pensamento e o desenvolvimento profissional. Referiu uma pedagogia efectiva em educação pré-escolar que se apropria da linguagem, valores e práticas em crianças pequenas, não esquecendo a escolha livre com potencial nas actividades desenvolvidas que devem ser diferenciadas e diversificadas, sempre em intercâmbio regular com as famílias
Em suma investir no acesso das crianças é uma aposta na qualidade das famílias.
Seguidamente foram apresentados os posters, que se pautaram diversificados, quer na temática como na apresentação dos mesmos.
Nas sessões paralelas a minha escolha recaiu sobre Práticas de Avaliação — Sistema de Acompanhamento da Criança (SAC) e Escala de Bem-estar Emocional, apresentado por Gabriela Portugal
A escolha relaciona-se com o facto de já ter lido o livro e querer na prática perceber melhor a sua utilização e eficácia da mesma, considerando ser crucial conhecer e saber utilizar os procedimentos diversificados de observação registo e avaliação dos seus processos e efeitos.
Esta prática de avaliação conta com a construção de um instrumento (resultante de um projecto de investigação realizado na Universidade de Aveiro, no âmbito da supervisão pedagógica) ajustado à realidade portuguesa com base nos normativos portugueses, tendo como base de inspiração os instrumentos da avaliação belga e trabalhos desenvolvidos da autoria de Ferre Laevers. Este sistema assenta na base de um ciclo contínuo de observação, avaliação, reflexão e acção, focalizado nos níveis de bem-estar e de implicação, organização do ambiente educativo, aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
A apresentação da oradora abordou quatro pontos:
1- Enquadramento oficial da avaliação em educação pré-escolar
Neste ponto foram referidas as OCEPE, o perfil de educador de infância, a Circular nº.: 4 /DGIDC/DSDC/2011 (avaliação em Educação pré-escolar) e a gestão do currículo,( Gestão do Currículo na Educação Pré-Escolar – Circular nº 17/DSDC/DEPEB/2007).
2- Enquadramento conceptual do SAC na educação experencial
Perspectiva geral sobre abordagem experiencial em Educação Pré-Escolar; abordagens da qualidade (focalizadas no contexto, nos processos e nos resultados); Implicação e bem-estar emocional como indicadores de qualidade; escalas de avaliação de implicação e bem-estar (análise processual); Estilo do adulto (dimensões estimulação, sensibilidade e promoção de autonomia) - (análise contextual); Pontos de acção para aumentar a implicação e bem-estar emocional (análise contextual); Atenção e acompanhamento de crianças que suscitam preocupação em termos de bem-estar emocional e implicação; Aprendizagens e desenvolvimento de competências em Educação Pré-Escolar.
3- SAC
O SAC é um instrumento de apoio, à prática pedagógica do educador de infância, que procura agilizar a relação entre práticas de observação, documentação, avaliação e desenvolvimento curricular, com base num ciclo contínuo de observação, avaliação, reflexão e acção, considerando o bem-estar, implicação, aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
4- Conclusões
De um modo global pode-se dizer que o SAC permite uma visão clara sobre:
Funcionamento do grupo de crianças em geral, considerando níveis de implicação e bem-estar; Aspectos que referem intervenção especificas; Identificação de crianças que necessitem de atenção diferenciada; Desenvolvimento curricular contextualizado. O SAC responde ao nível da concepção e organização do ambiente educativo; observação, planificação e avaliação e avaliação; relação e acção educativa; desenvolvimento do currículo; capacidade reflexiva do profissional, itens contemplados no perfil do educador, Decreto-Lei n.º 241/2001, de 30 de Agosto http://ebivgama.pt/PDF/Dec-Lei-241-2001.pdf
O dia 9 Julho iniciou com a excelente apresentação de relatos de práticas. Helena Martinho e os seus conhecimentos práticos sobre a ciência transmitida às crianças em Jardim-de-Infância, a equipa do Jardim-de-Infância da Horta Nova reflectiu sobre o trabalho em equipa, factor fundamental na planificação e reajustamento da intervenção educativa. Marta Pereira abordou os conflitos interpessoais e modos de os encarar e superar, factor de oportunidade de aprendizagem para desenvolver atitudes empáticas e dar intencionalidade educativa às referidas aprendizagens na sua resolução.
Carlos Fiolhais, divertido, lúcido e mágico abordou o estado da ciência nas suas múltiplas facetas, embora referindo o grande progresso alcançado nas últimas décadas, salientou o muito que falta fazer na importância de uma maior promoção na melhor formação de educadores, de modo a que estes sejam um recurso para a proximidade da criança ao conhecimento da ciência.
Laborinho Lúcio insistiu no repto de chegar mais longe e não se deixar ficar pela utopia mas tudo fazer para a alcançar. Brilhante nas suas analogias será difícil transcrever as palavras usadas da sua experiência pessoal de um modo metafórico para passar a mensagem de que é possível acreditar numa melhor escola para todos.
João Formosinho abordou a diversidade cultural na escola actual, colocando o foco da interpretação uniformizada de currículo. Pensamento de tratamento impessoal, perdendo assim a importância do respeito pela diferença e aceitação das diferenças.
Helena Marujo que referiu que um especialista é aquele que não ignora uma coisa, nesse âmbito ela é uma especialista do pensamento positivo pois não ignora o sentido positivo da vida.
A oradora pediu um minuto para salientar um factor positivo. Referiu o pensamento positivo em relação aos outros. Por exemplo, como pode um professor querer um aluno único e pensador mas a fazer o que o professor exige sem colocar objecções (?)
Referiu a imensa medicação, que actualmente é prescrita, na questão de não se conseguir mudar as nossas emoções sem que não se recorra a analgésicos.
Salientou que podemos ver e mostrar o que há de bom e melhor nas escolas, outras formas de escutar, sabendo que outros vêem outros ângulos e outras formas. Observar situações visíveis positivas, abordando a ideia de Florescimento.
Treinar-se para viver e ter um maior equilibro emocional, sendo que quem tem um objectivo, mesmo em situações difíceis, pode aumentar a sua confiança e ser capaz de resolver os problemas da sua vida.
Helena Águeda Marujo, referiu a importância de pequenos passos para alcançar grandes mudanças. Na realidade, o que nos faz aumentar as nossas emoções positivas, como a alegria, o contentamento, o amor, ou o que nos pode ajudar a descobrir mais sentido para o que somos e fazemos, são as mudanças e acções aparentemente simples, básicas, leves, sem complicações.
Reforçar o que é bom e registar os momentos altos. Enumero, de seguida, alguns exemplos citados:
Reforçar o que é bom e registar os momentos altos. Enumero, de seguida, alguns exemplos citados:
-Passar a listar diariamente as coisas boas que acontecem ao longo do dia;
-Substituir a linguagem crítica por uma linguagem positiva;
-Dedicar tempo aos amigos e às relações importantes da vida;
-Viver aceitando o passado, saboreando o presente e acreditando no futuro;
-Praticar intencionalmente actos de generosidade;
-Usar pequenos grandes gestos pela sustentabilidade do planeta;-Substituir a linguagem crítica por uma linguagem positiva;
-Dedicar tempo aos amigos e às relações importantes da vida;
-Viver aceitando o passado, saboreando o presente e acreditando no futuro;
-Praticar intencionalmente actos de generosidade;
Deste modo, a especialista em Psicologia Positiva, através de uma exposição simpática e atractiva passou a mensagem de pensar de forma diferente, descobrindo no dia-a-dia estratégias que nos permitem viver de forma mais equilibrada e feliz. Não esqueceu a mensagem da importância de devolver o valor aos alunos e a felicidade às escolas e o facto de que o direito à educação dos 0 aos 6 anos é um investimento social que tem um retorno significativo.
O encontro terminou com a presença de Isabel Maria Santos Silva, Secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário que congratulou a APEI pelo trabalho feito, referindo também a importância da educação pré-escolar
A época, final de ano lectivo, período que corresponde a uma reflexão da prática pedagógica desenvolvida, não afastou os cerca de trezentos participantes neste encontro. Curiosamente ou não, correspondendo à temática do encontro, a reflexividade neste momento actual é tão pertinente quanto fundamental. Reflectir sobre as práticas, estas de teor intencionalmente pedagógico, deve ser uma constante num profissional, permite, desse modo não só ajuizar as práticas já feitas como fecundar as práticas futuras.
Quero felicitar a APEI, na qual me incluo, pelos seus 30 anos e pelo XII Encontro realizado. Por estes dois motivos, duplos parabéns. O Encontro bem organizado contou com excelentes oradores. De Teresa Vasconcelos com os seus poemas que caracterizam a sua sensibilidade estética, a Júlia Formosinho reflexiva, Ana Bettencortt, sintética e elucidativa, Carlos Fiolhais mágico e divertido, Laborinho Lúcio, brilhante e apelativo, João Formosinho observador, encerrando com o optimismo salutar de Helena Marujo.
Participar neste encontro veio reforçar a ideia premente de que o jardim-de-infância constitui um agente activo de mudança, logo, tem de estar aberto à diversidade de seres e saberes, desenvolvendo o educador práticas pedagógicas que facilitem e permitam a todas as crianças uma participação efectiva na sociedade e na colaboração com os seus pares.
Citando Isaac Bashevis Singer (Prémio Nobel), "O nosso conhecimento é uma pequena ilha no enorme oceano do desconhecimento."
Muito obrigada à APEI e a todos que a constituem, por terem contribuído para acrescentar mais um pouco de sabedoria e poder de reflexão à minha ilha!
Elvira Cristina Silva
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