Daniel
Pennac
Porto
Editora (2009)
Este
livro não é novidade, contudo, sempre que me deparo com alguns incrédulos professores
perante a capacidade de aprendizagem de certos alunos recordo Daniel Pennac.
Recordo-o
e recomendo a sua leitura, pois considero-o como a única forma inteligente de
olhar a escola, ou seja, nos seus dois pontos de vista: aluno e professor.
Daniel
Pennac, é atualmente conhecido por ser um versátil homem de vários ofícios,
sendo sobejamente notório como escritor francês, com bastantes livros
publicados, bem como argumentista de cinema e televisão. Contudo, neste livro
autobiográfico, em oposição ao que seria expectável face a este currículo, revela
ter sido o exemplo do mau aluno que não aprende, que não assimila, que não compreende.
E
quem será afinal que não compreende? Porque premeditam teimosamente os adultos,
o futuro das crianças e jovens com que se deparam?
Neste
livro o aluno confessa “a urgência do
professor que vim a ser consistiu em apaziguar o medo dos meus piores alunos
para fazer saltar o ferrolho, para conferir ao saber uma oportunidade de
entrar” (pág. 26).
Em
duzentas e cinquenta e três páginas, divididas em seis capítulos, o autor
aborda a sua infância e adolescência numa perspetiva de cábula concedendo-lhe a
sua plena magnitude, a par do lamento que o acompanha nesse percurso, enquanto
reflete pedagogicamente a sua prática de professor, analisando a escola nas
suas angústias e benefícios.
Confessa-se,
constatando que um aluno alegre é hábil em diversos jogos, contudo, os
professores tendem a desaprovar essa alegria confundindo-a em muitos casos como
insolência. Relata a situação cliché da constante pedagogia de castigar todos
por um, em busca de um delator (pág. 32), alvitrando que “os maus alunos são como uma cebola” com camadas de sentimentos “sobre um fundo de passado humilhante, de
presente ameaçador, de futuro condenado” (pág. 60). Ensinar consiste no
simples gesto de olhar essas camadas.
Aborda
vantagens e desvantagens do ensino interno. Refere filmes sobre a escola, numa
perspetiva de abordagem a esta, como um lugar onde o indivíduo se constrói e
onde os professores fazem a diferença. Aliás é a essa diferença dos professores
que aborda com mais insistência na sua obra. Os professores que o marcaram permitindo
a sua ”metamorfose de cábula em
professor” (pág. 80), os professores que veem os alunos, não tendo aqueles,
necessariamente caraterísticas específicas, são professores diferentes entre
si, no feitio e na forma de ensinar que invertem as expectativas de futuros com
base em rótulos de “nomes pejorativos que
os professores dizem aos alunos” (pág. 57). Referindo que “não há nada que impeça mais a assimilação
do saber do que o desgosto” (pág. 107), salienta que o professor deve
colocar-se no lugar do aluno e não no inverso, porque a postura dos alunos em
sala de aula, depende, em muitos casos, da postura do professor. Contrariando o
“pessimismo apocalíptico” aborda a
massificação da comunicação quando a escola é notícia para falar das más ações
cometidas nesse contexto.
Recorda
a experiência de um bom professor que teve, acreditando que basta um professor
para fazer a diferença, um professor que acredita ao invés de que predestinar a
calamidade (pág. 218). Refere que os alunos não mudaram, o que mudou foi o
mundo consumível (pág.233). “A grande
falha dos professores assenta na incapacidade de se imaginarem sem saber o que
sabem” (pág. 244), focando o distanciamento dos professores face aos alunos
“importa que aqueles que pretendem
lecionar conservem uma visão clara da sua própria escolaridade” (pág. 245).
Publicado
originalmente em 2007, nesse mesmo ano, este livro autobiográfico, ganhou o
Prémio Renaudot (prémio em honra do jornalista Théophraste Renaudot que fundou
o primeiro jornal La Gazette, em
França, e que é considerado um dos mais importantes prémios literários daquele
país).
O
esplendor da essência deste livro é a importância da relação de apreço com os
alunos, não só da clarificação de sentimentos, simpatias e contrariedades, mas
para além disso o compromisso. O compromisso dos que, implicados no ensino,
acreditam que este deve ser pautado por encontros onde cada aluno conta “Ponto final.” (pág. 251).
Elvira Cristina Silva
(dezembro 2015) - páginas 35-36)
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