"A vida na porta do frigorífico"
Alice Kuipers
Editorial
Presença (2009)
Mãe e filha vivem no mesmo espaço. Por
"infortúnio" da vida laboral de uma e da adolescência irrequieta
de outra, pouco se encontram, mas é na porta do frigorifico que se
comunicam. Que deixam expresso como a humanidade não pode viver isolada.
É exclusivamente através das
mensagens em post its
que podemos conhecer ambas as personagens, a sua vida, desejos e
receios. A comunicação impessoal, feita de tempos de desencontro,
funciona como meio de interação, até mesmo nas palavras que em muitos casos constituem
desabafos escritos, por falta de coragem de os dizer olhos nos olhos.
Relações num quotidiano apressado onde
o ponto de encontro da comunicação é a porta do frigorifico. Portal de vida que
se esbate e onde emana a frivolidade dos nossos dias.
Um frigorifico, talvez a metáfora de
fonte de consumo e alimento, a par da frieza do contacto humano, muro de
lamentações e afixe de palavras. Mural de lembrete da vida apressada. As
palavras, a sua existência ou a falta delas. Palavras que existem mais
virtualmente escritas do que proferidas oralmente. Um olhar realista sobre a
sociedade, as relações, os afetos, a culpa, o ressentimentos e frustração,
medos e perdas.
O silêncio de quem corre apressado
mas tem a necessidade imperiosa de viver e de comunicar.
Leitura fácil, despretensiosa e rápida,
a par talvez da simetria da rapidez da vida, deixa suspensa a reflexão do que diariamente
valorizamos e que narrativa deixamos escrita nesta passagem efémera pela vida.
Elvira
Cristina Silva
in: Sugestão de leitura da Newsletter nº 78 (novembro 2014) - 2ª quinzena; pág 9) Pró-Inclusão
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