Do inesperado e
incerto se fez escolha. Sabiamente, como só os mestres sabem conceber foi apurado
cada personagem. Soube-se gentilmente misturar caprichos e audácias. A vida
dentro do teatro ou o teatro representando a vida (pois um é o reflexo de outra
e esta se espelha naquele).
Fui cigarra, fazendo
parte de uma assembleia em prole da mudança. Tal como a transformação que urge
na vida em constante mutação, do Ter ao Ser, do receber em dar. Insta a
partilha, a confiança mútua, a solidariedade.
Num tempo presente
marcado pela acentuada competitividade do Ter,
a experiência vivida revelou-se na amplitude do meu Ser. O palco é, foi e será “o palco da nossa vida interior”. Mas
foi muito mais além, na comunhão da aprendizagem, do alento, da sensatez, a
partilha dos espaços, os instantes escassos e fugazes de olhares e silêncios.
Feliz fui eu e
serei, tal como a cigarra, de viver este tempo que em mim se entranhou, a mim
que fere sem cura a paixão pelo teatro. Momentos únicos e irrepetíveis.
Tão feliz eu sou.
Porque é em mim que se instala agora, em cada poro este ensejo vivido, mesmo
quando as lágrimas de saudade me secarem no rosto.
Belisco-me a mim
mesma, agora, dirigindo-me à luz que me guia na vida. Belisco-me. Não foi ilusão,
foi magia tornada vida na sua plenitude. Jamais se morrerá de tédio, enquanto
houver Teatro, Lorca e Cintra. Debaixo do manto azul, pairará sempre na minha memória
esta passagem pela Cornucópia.
Quem dera que este silêncio
admirável me conduzisse de novo à Ilusão. Saudades, saudades, não me atormentem
mais.
Mesmo quando tudo se
esfumar e o tempo ludibriar a memória, a experiência, essa, nunca ninguém
eclipsará.
Ficará sempre!
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