domingo, 24 de janeiro de 2010
A MÃE // de BERTOLT BRECHT / MÁXIMO GORKI
encenação de JOAQUIM BENITE
Joaquim Benite encena A mãe, de Bertolt Brecht, numa nova produção da Companhia de Teatro de Almada. A peça Die Mutter foi escrita em 1931 - além de Brecht nela colaboraram Slatan Dudow, Hanns Eisler, Elisabeth Hauptmann, Emil Burri -, aos quais se associaria Günther Weisenborn, autor de uma adaptação teatral alemã do romance homónimo do escritor e activista político russo Máximo Gorki, publicado originalmente em 1906. Estreada em Berlim, em 1932, o autor só a dirigirá em 1951, com o Berliner Ensemble, depois de voltar do exílio nos EUA (regressara a Berlim Oriental, em 1949).
Pelagea Vlassova - assim se chama a «mãe» que protagoniza a peça e que, nesta produção, será interpretada pela actriz Teresa Gafeira - sofre um dos mais cinzelados e conseguidos processos de formação da consciência no primeiro teatro de Brecht. Ultrapassando definitivamente o mero didactismo, o dramaturgo alemão deixa que Vlassova, sinuosa e progressivamente, aprenda a interpretar a luta de seu filho, que acabará por morrer, contra a iniquidade czarista. De dona de casa timorata e apaziguadora, Pelagea Vlassova transformar-se-á em revolucionária activa, porta-estandarte de uma utopia nova, capaz até de identificar a ignorância, o medo e o desânimo como os principais filtros entorpecedores de que se servem os totalitarismos (Brecht pensava no capitalismo selvagem, mas especialmente, no nazismo, que subiria ao poder em 1933).
Nas suas criações mais recentes - basta lembrar Timão de Atenas, espectáculo baseado na peça homónima de Shakespeare, que se estreou no Festival de Teatro Clássico, de Mérida, O presidente, de Thomas Bernhard, ou O doido e a morte, a peça de Raul Brandão e a ópera de Alexandre Delgado -, Joaquim Benite tem-se interessado particularmente por evidenciar a ténue fronteira que separa a tíbia e domesticada resignação pequeno-burguesa do esforço - mesmo que excessivo - de tudo pôr em causa através da Razão. Este persistente elogio da inteligência não manifesta apenas a crença do encenador na capacidade iluminadora da Razão, mas, talvez mais exactamente, a sua decidida afirmação de que, para que a utopia se torne possível, é imperioso pensá-la «emocionalmente». É com este horizonte que volta, então, a ler atentamente um texto de Brecht de que já encenara três cenas em 1980, redescobrindo o subtil apelo de mudança que nele se inscreve, os retratos de gente comum que inopinadamente se transcende, e a apelativa alegria enérgica da sua estrutura musical. - M-PQ
Tradução da peça e das letras das canções Yvette K. Centeno, Teresa Balté
Direcção musical Fernando Fontes
Voz e elocução Luís Madureira
Cenário Jean-Guy Lecat
Figurinos Sónia Benite e Ana Rita Fernandes
Desenho de luz José Carlos Nascimento
Assistente de encenação Rodrigo Francisco
Intérpretes Alberto Quaresma, André Albuquerque, Carlos Gonçalves, Carlos Santos, Celestino Silva, Daniel Fialho, Laura Barbeiro, Luzia Paramés, Manuel Mendonça, Marco Trindade, Marques d’Arede, Miguel Martins, Paulo Guerreiro, Paulo Matos, Pedro Walter, Sofia Correia, Teresa Gafeira, Teresa Mónica
in:
http://www.ctalmada.pt/cgi-bin/wnp_db_dynamic_record.pl?dn=db_temporada&sn=temporada_09-10&orn=902
Em cena no TMA até 31 de janeiro de 2010
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