No âmbito da Mostra de
Artes, da disciplina gestão das artes dos alunos do 12º ano da Escola
Secundária Artística António Arroio foi realizado um Projeto interdisciplinar
de alunas de diferentes áreas contando com a participação do músico
Liberdade no Mob dia 12 de abril .
Lê-se na brochura
realizada para este projeto que constitui uma reflexão sobre o ensino, embora
reconhecendo os benefícios da educação sentem que são educados no passado e no
presente e não para o futuro. Esperançadas numa Inversão do paradigma
atual, apresentaram instalações vídeo, de som e esculturas que remetem
para a experiência escolar vivida e reclamada por alunos, ilustrando
experiências reais, passando pelos murais/posters com as habituais frases
clichés (Tenho de; Sempre se fez assim; Não...)
Apresentaram ainda esculturas cerâmicas representando objetos de castigo aos alunos.
Na apresentação do
espetáculo de Liberdade,o músico apresentou o seu projeto PIRAMISAR nas três vertentes de pirâmides hierárquicas da sociedade:
Consagração artística, A escola como uma fábrica, A indústria agro-pecuária num banquete
pouco ético.
Terminando a semana do
referido projeto abriram a escola a uma conferência intitulada Desenvolvimento
convidando para uma reflexão conjunta o Professor Sérgio Niza.
Este iniciou a sua
partilha referindo a estadia demasiado prolongada na escola dos alunos. Ironicamente
a generosidade política e governamental apresenta em muitos
casos falsas oportunidades escondendo a ausência de outras soluções cívicas.
Numa
abordagem histórica, lembrou a aprendizagem através
de Mestres que são eleitos pelos pupilos como apaixonados pelo saber e
pelo conhecimento e não por certificação. A aprendizagem que era realizada
passeando, reservando tempo e espaço para a sabedoria e para os afetos, por
oposição à escola atual onde os professores e alunos estão demasiado tempo
aprisionados em paredes e espaços vigiados. Alunos, esses que saem para a vida,
enquanto os professores na escola permanecem sem dela sair. Talvez, por esse
facto, em muitos casos, de modo a sentirem-se mais seguros, adotam as suas
memórias como uma matriz educativa na sua forma de educar os outros.
Por oposição à
aprendizagem feita em passeio, como numa aventura permanente, prazeirosa a
escola atual fecha-se numa casa entre paredes para aprofundar a leitura
e aprender a escrita. Passagem economicista de um estado de
ensinar cada um individualmente passando a ensinar todos
como se de um se tratasse. Ideia maquiavélica, posteriormente
santificada, de Jean-Baptiste de La Salle (Séc XVII) de cometer a
atrocidade de esquecer o individuo e remeter a escola para "uma
fábrica" de produção em série, de método simultâneo desde a adoção
de manuais, a material e horário pré estabelecido para todos impedindo
tempos de pausas e de ócio. Uma instituição organizada onde o saber e as
condutas são permanente vigiadas.
Um local onde existe
cerca, onde todos são permanentemente vigiados quer nos comportamentos quer nos
currículos.
A escola alicerçada
basicamente nas aprendizagens com base na escrita (na sua grande maioria as
disciplinas têm como base a escrita) mantem standardizada a "maldade"
de avaliar os alunos também dessa forma.
Assim sendo
a escola necessita melhorar a competência dessa ferramenta por parte
dos professores.
Referiu que mesmo
entre escolas controladoras, o essencial é ter coragem de pensar a escola, questionar,
refletir, permitindo deste modo que professores e alunos se encontrem com
melhores respostas de modo a que os primeiros saiam da pele institucional
de cultura de escola que enraizaram para pensarem uma escola que faça sentido.
Sérgio Niza , figura
incontornável do Movimento de Escola Moderna falou sobre o referido
movimento quando solicitado pelos presentes.
Na sala, testemunhos
em nome próprio referiram um ensino onde é lhes é dado ferramentas para
desenvolverem capacidades, um trabalho responsabilizado por cada aluno, dando
espaço á individualidade e assente num paradigma de cooperação para atingir o
bem comum, para todos e cada um.
Pedagogia que contraria
a competitividade. Aprende-se na linguagem do interagir. Os alunos produzindo e
sendo autores do que fazem só assim podem compreender para difundir e partilhar
a informação.
Sérgio Niza referiu o
quanto fundamental é Ser. Quantos alunos passam pela escola sem terem sido
autores de algo.
Num espaço de cultura
e produção cultural que se deseja da escola, é pertinente que seja um lugar apetecível,
onde produzam e admirem cada umas das produções dos outros, apaixonadamente. Se
assim não for ,a escola não representa os indivíduos, nem cumpre os seu papel
desancadeador de cidadania. Para que se viva momentos de paixão irrepetíveis
pelos saber é necessário ter-se coragem de iniciar cada conversa para desse
modo refletir contribuindo para a saúde mental de cada um, da própria escola
numa atitude de cidadania.
Citando Jean Paul
Satre, o orador referiu "o importante não é aquilo que
fizeram de nós, mas sim o que nós fazemos com o que fizeram de nós."
Estes alunos são prova
disso. A escola tem que ser repensada a cada instante. Inversão (nome do
projeto) como apelo de mudança aos valores e à reflexão conjunta. Desde já um
ato de cidadania, para que não sejamos produtos de uma fábrica mas seres pensantes,
críticos e reflexivos.
Um agradecimento aos
alunos que possibilitaram esta reflexão conjunta e a grande possibilidade de
mais uma vez ser presenteada com as palavras sábias de um grande mestre. Eleito
entre os seus pares, independentemente das suas certificações.
ECS
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