Temos de falar sobre o Kevin

Ler quatrocentas e vinte e nove páginas tem sido um fascínio. É certo que desde logo a temática me seduziu, o número de páginas, uma odisseia, com outros livros pelo meio. Quando tanto se fala de bullying, muito mais do que um livro de ficção, escrito por Lionel Shriver, publicado em 2003, esta obra foca a perspectiva de uma mãe, Eva Khatchadourian, que narra na primeira pessoa, o percurso de vida do seu filho através de cartas que envia ao marido documentando as suas tentativas de entrar no modo de funcionamento do seu filho Kevin, que dois dias antes de fazer dezasseis anos, comete um acto que mudará o rumo das vidas de uma família.

Passados dois anos, como penalização de um acto cometido numa célebre quinta-feira, Kevin, encontra-se numa prisão para jovens delinquentes e a mãe vê-se obrigada a rever a história do filho, numa tentativa de compreender o que se passou. Um livro que com algum humor negro relata vidas familiares, relações pessoais e realidades do quotidiano, questões sobre a maternidade e a ambivalência dos sentimentos. A fraqueza humana de criar laços ou de os evitar para não sentir a perda.

Este livro, o sétimo desta autora, ganhou em 2005 o Orange Prize, um prémio britânico para autoras de qualquer nacionalidade que escrevam em inglês. Um livro fascinante de uma qualidade narrativa, que através de palavras duras mas também sensiveis nos conduz de forma perturbadora e intensa a questionar a natureza humana.

EC