Realizou-se no passado dia 13 de outubro o Encontro:
“Práticas para a Inclusão” promovido pela Câmara Municipal de Sintra que decorreu
na Escola Secundária Padre Alberto Neto em Queluz.
Após a sessão de abertura o primeiro painel
intitulado “Criança, Família, Escola” foi da responsabilidade de Nuno Lobo
Antunes. Este apresentou o novo centro clinico PIN – Progresso Infantil, abordou
o papel da sociedade na educação, o individuo como ser exclusivo na sua
individualidade, bem como apresentou algumas problemáticas mais frequentes no
desenvolvimento da criança, referiu ainda a importância do diagnóstico e o
papel da sociedade bem como a importância da autoridade parental.
O painel com o título “Entrelaçar” foi dedicado à
apresentação das práticas de dois agrupamentos de Escolas (Ferreira de Castro e
D. Maria II), ambos centraram a apresentação no funcionamento das Unidades
existentes e as diferentes respostas às especificidades dos alunos.
O Painel III, “Capacitação das Famílias” esteve a
cargo de Luisa Beltrão e Júlia Serpa Pimentel que apresentaram o funcionamento
do Movimento Pais em Rede e
proporcionaram ainda a dois encarregados de educação e a outros que assistiam
na plateia, a partilha resultante do seu envolvimento nesta associação e em
particular na participação das oficinas para pais.
O último painel deste encontro realizou-se após o
almoço, onde Dr.ª. Teresa Leite abordou “ A musicoterapia no sistema
educativo”, a importância da sua utilização e das vivências a ela associadas na
relação terapêutica, as áreas de aplicação, métodos e técnicas, as diferenças
entre educação musical adaptada e música na educação especial. Terminou ainda
referindo o bom princípio que é a Inclusão salientando a falta de meios para
que este conceito se torne mais operacional na escola.
As oficinas decorreram após este painel,
diversificando-se nas suas temáticas.
Não posso deixar de agradecer o convite feito pela divisão
de educação da Câmara Municipal de Sintra à Pin- ANDEE. É neste âmbito que
surge este resumo do encontro pois coube-me a mim o comentário final sobre o
mesmo.
Não deixa de ser curioso este Encontro ter começado
com o PIN – (nome escolhido pela nova equipa do Progresso Infantil) e terminar
com a PIN – Pró Inclusão – Associação Nacional dos Docentes de Educação
Especial. Tal como o PIN, referido pelo Dr. Nuno Lobo Antunes também a Pin da Pró
Inclusão-ANDEE se prende ao peito, um objeto frágil, simbólico, porém, já com
mais idade do que o atual PIN.
A Pin da Pró Inclusão foi criada em 2008, após um
percurso feito no FEEI (Fórum de Estudos de Educação Inclusiva). Este grupo de
trabalho resolveu criar uma associação com o objetivo de por um lado apoiar a
profissionalidade dos docentes de educação especial nas práticas, na
investigação e politicas e paralelemente promover educação de qualidade para
alunos com necessidades educativas especiais no âmbito dos valores da Inclusão.
Foram ainda referidos os eventos e as publicações da
nossa associação deixando obviamente o convite para que nela participem de
forma a tornar-se cada vez mais um espaço de reflexão e partilha.
Não pude deixar de aludir a minha presença como dois
em um, tal como se de um shampoo se tratasse… Por um lado represento a Pin-ANDEE
(enquanto elemento da direção) e por outro represento-me a mim própria, enquanto
docente de educação especial, pois obviamente uma não vive sem a outra.
A alusão ao shampoo de modo nenhum foi arbitrária.
Aquele lava as cabeças e a minha função no comentário final foi de agitar as cabeças
dos presentes ou pelo menos a minha. Porque de facto todos os painéis do
encontro agitaram cada um de nós com momentos bem merecedores de que isso
acontecesse.
A tarefa de um comentário final nunca é tarefa fácil,
ainda mais quando se está a absorver tudo o que foi abordado. A ideia não era a
de um resumo, portanto optei, de modo sintético, por dar apenas uma piscadela
de olho em cada um dos painéis aludindo ao que de mais pertinente salientei
como ponto de reflexão:
Impossível ficar-se indiferente à comunicação sobre a
tríade: Criança/Escola/Família com palavras conhecedoras, porém recheadas de
algum humor discutível com que nos presenteou o Dr. Nuno Lobo Antunes.
A palavra entrelaçar, muito bem escolhida, para partilhar
as Práticas das escolas Ferreira de Castro e D. Maria II, como promotoras de
inclusão efetiva.
A capacitação das famílias na importância de lhes dar
voz, porque são elas de facto quem melhor conhece os seus filhos e só elas mesmo, sem pudermos sequer imaginar,
vivem na pele a experiência.
A importância da música no desenvolvimento do
individuo. As oficinas ricas na sua diversidade e partilha. Não esquecendo a
visita à exposição Imagina Lá onde
foi possível ver os trabalhos realizados e o escolhido para o cartaz de
divulgação do evento.
Após um riquíssimo leque de painéis a que tivemos
acesso, recordei a citação de Walter Eigner, referida em 1995 na sua obra: “A educação inclusiva é uma questão de bom
senso”, em que o autor expressava que não deveria ser necessário lembrar a
Declaração de Salamanca para reconhecer que a Educação Inclusiva é ela,
fundamentalmente um direito elementar numa escola de qualidade com reflexo numa
sociedade mais humanitária.
Passados alguns anos, daquela citação (mais
precisamente dezassete anos – uma citação quase, quase com idade adulta que
refere a declaração Salamanca, esta sim de idade adulta), o hiato temporário
que nos separa e a maturidade destes conceitos, por incrível que pareça, ainda não
fizeram eco em alguns céticos face à inclusão. Existem mesmo alguns indivíduos (vindos
não se sabe de que planeta) que consideram não só o termo, em si utópico, como duvidam
do sentido do seu significado.
O que é pena, pois a inclusão nada tem de extraordinário.
Luisa Beltrão enfatizou neste encontro a importância da escola: “quanto mais
não fosse pelo benefício da socialização…”
É tão simplesmente aceitar que todos têm direitos, pois
é de direitos humanos que se fala em primeira instância. Muitos professores,
infelizmente, é verdade, e outras classes profissionais ainda desconhecem o
termo e ao que ele se refere na prática.
Talvez a solução passe pela formação dos
profissionais e essencialmente motivação da sociedade para a aceitar o outro
incondicionalmente. Penso que neste encontro foi visível essa motivação, no
modo de compreender e intervir na diferença, refletindo essencialmente o que é
em si mesmo a diferença, pressupondo esta uma conceção homogénea do ser humano,
bem longe do que é a realidade.
Diferença é o que distingue a exclusividade do
individuo, é sinónimo de criatividade. Na sociedade atual conturbada é
necessário mesmo alguma dose de criatividade para que nos aproximemos uns dos
outros, nos tornemos mais autênticos, necessitando mesmo de ser criativos face
aos desafios atuais.
Para finalizar um desafio atual e pertinente (e
também criativo, porque não?) sobre a necessidade de reflexão conceptual e
prática da nova portaria n.º 275-A. Reflexão e diferentes opiniões sobre a
mesma, porque, como tudo na vida há sempre dois (ou mais) olhares sobre as
coisas. Uns que contestam, outros que aceitam incondicionalmente.
Cabe, a cada um de nós encontrar o sentido desta
medida educativa após um percurso educacional de doze anos de escolaridade. Ainda
estou a tentar entender esta medida e o seu sentido e creio não estar sozinha
na busca do seu entendimento. Foi referido neste encontro que alguns alunos
estão atualmente em casa sem resposta face à atual portaria… “Surge um deserto
de respostas após doze anos de escolaridade”, referiu Júlia Serpa Pimentel.
Procuremos neste âmbito e em outros, uma reflexão do
que melhor se faz para tornar a educação, toda ela, mais justa e equalitária. Porque
foi, aliás, de práticas de inclusão que se falou durante todo o encontro.
Sergio Godinho dizia numa canção“ A liberdade está a
passar por aqui”. Sobre esse pensamento com certeza todos teremos também algumas
reflexões na conjetura atual, mas foi adaptando aquele pensamento que deixei o
repto:
“ A inclusão está a passar por aqui. Ela acontece de
facto nas escolas!
Mas deixa rasto ou não? É temporária? Fictícia?
Não podemos deixar de nos interrogar sobre o modo
como está a ser entendida esta e outras medidas educativas.
Gostaria de não ter que esperar mais tempo para que,
quer a declaração de Salamanca ou a citação que mencionei, faça eco na
sociedade.
Acredito que é possível. Por isso mesmo estive
presente neste encontro, agradecendo a todos o que o tornaram possível, deixando
aqui o meu testemunho.
Posso ainda acrescentar que, algumas famílias e
docentes, após o meu comentário final referiram que também eles acreditam que a
inclusão existe e é irreversível!
Luis Fernandes (psicomotricista) pegando nestas
provocações de metáforas à inclusão também ele lembrou a frase de Bernardo
Fachada numa canção que refere “que a liberdade já passou por aqui mas estava
mal ensinada … ”
Quanto à inclusão, acreditamos, não está mal
ensinada, pelo contrário, ela faz-se em muitas partilhas, como foi este
encontro que, ainda nas palavras de Luis Fernandes, constituem uma pedrada no
charco.
Pela parte que me toca, atiremos então com mais
pedras para o charco!
Elvira Cristina Silva
in: Editorial da newsletter n.º 48 da 2ª quinzena de outubro da Pin-ANDEE